segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Tarrafal.

 
 
 









28 de Julho
O Sr. Adriano (observei-lhe sobre a sua parecença com Amílcar Cabral e respondeu-me não ter sido o primeiro a referir-lhe isso) levou-nos para o lado norte da ilha, com paragens no Jardim Botânico – um oásis no meio da quase desnuda paisagem e cada vez mais montanhosa à medida que se avança para norte – S. Jorge dos Órgãos, Assomada, e sobretudo no Chão Bom, nome irónico para o lugar do [in]famoso campo de concentração, nos arredores da sede do concelho do Tarrafal.
O museu mexe com o estômago. Uma das casernas está transformada em informativa sala repleta de memorabilia, desde fotos e documentos oficiais a cartas e narrativas.
Impressiona a quantidade de gente que aqui foi “hospedada” ao longo dos anos, bem como as divisões estabelecidas nas casernas: havia-as para os portugueses continentais (ou brancos) e para os africanos, divididos por províncias. E lá estava a “Holandinha” – a famosa – uma cela junto à cozinha onde eram arrumados os mais renitentes a fim de sentirem de bem perto o cheiro da comida quente e entranhassem mais fortemente a privação, no caso deles extremada de propósito – água e pão.
Uma casa solta a meio do campo era a morgue. Esmeraldo Pais Prata, conhecido por “o Tralheira”, médico nomeado oficialmente para o Campo de Concentração em finais de 1936 (só se apresentou para consultas em Abril de 1937), terá esclarecido a sua missão nestes termos:  “Não estou aqui para curar mas para passar certidões de óbito.”
Uma aprendizagem sombria e triste. Felizmente seguiu-se-lhe o bom chão do Tarrafal, a praia melhor da ilha a convidar a um belo banho neste Atlântico aberto e emoldurado de África.
 
 
 
Texto e fotografias de Onésimo Teotónio de Almeida
 
 
 
 
 
 


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